Esta
terra
Este
chão tem gente. Homens, mulheres, velhos. Poucas crianças. Tem
ruas, casas, portas, janelas. Tem pedras com história. Este chão
habitado no meio da serra tem campos lavrados, outros a monte. Tem
frutos maduros. Fonte de pedra morena, água que mata sede a quem
passa. Aqui há pão. Trabalho. Há mãos. E chega a parecer que as
agruras do mundo moram lá fora. Esta terra tem festa, banda, tem
lojas, igreja, capela, nichos, alminhas. Tem caminhos estreitos,
muros, calçadas, velhos portões. Tem estradas que passam e um tempo
que fica. É rude esta terra, com cactos, espinhos. E tem mel. Que
aqui há rosmaninho, alfazema, urze, árvores antigas, flor de
jasmim. Há abelhas. Grilos, cigarras. Nesta geografia cavada, há
sonhos esquivos. Amores proibidos. Pedro e Inês ao fim-de-semana.
Vidas sofridas todos os dias. Há lendas. Danças, cantigas. E um
vento que ronda e um vento que roda. E pardais, corvos, espantalhos,
quintais. Há cães que dormitam, ovelhas, cabras, cavalos não vi, e
bichos bravios de que se ouve falar. Esta terra tem passos em volta,
tem os meus passos por dentro. Tem os meus olhos achadiços, um dia.
Um nome: Espinhal.
Agosto de 2012, Augusto Baptista
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